quinta-feira, 26 de março de 2009

Um caso isolado?

O drama da menina Isabele Rodrigues vai além da necessidade financeira enfrentada por sua família. Claro que a pequena rio-grandina precisa de auxílio neste momento, mas não é possível deixar de lado o questionamento quanto à participação do poder público municipal no fato. Afinal, a menina brincava com uma bola durante o horário de recreio da Escola Municipal Frederico Ernesto Buchholz, situada no bairro homônimo à instituição de ensino, quando se machucou. Segundo sua mãe, ela pisou no brinquedo. Mas foi a queda que a deixou com uma sequela permanente no fêmur esquerdo. Isabele caiu em uma pedra que estava jogada no pátio, decorrente da obra de construção do ginásio da escola. No local não havia uma tela de proteção. As crianças são obrigadas a brincar e fazer suas atividades físicas em meio ao entulho, ao cimento e demais materiais normalmente utilizados neste tipo de construção. Após o episódio, a escola prestou socorro à menina, que agora tem dificuldades para se locomover e não consegue mais pular ou jogar bola como antes, justamente uma das brincadeiras que ela mais gostava de fazer
na escola. No entanto, apenas uma cesta básica adquirida pelas funcionárias da instituição de ensino municipal e outra angariada entre funcionários da Secretaria Municipal de Educação e Cultura (Smec) foi a assistência vinda do Executivo. Nenhum apoio mais foi dado e sequer indenização. A mãe da menina contratou um advogado, que entrou com uma liminar solicitando pensão a Isabele, uma vez que o acidente ocorreu no âmbito escolar. Entretanto, a justiça negou o pedido, deixando a família em uma situação caótica, já que a mãe precisou parar de trabalhar para cuidar da filha. Isabele estava na escola justamente para que sua mãe pudesse trabalhar e garantir o sustento da casa, composta ainda por mais dois meninos, sendo um deles menor. O outro sofreu um acidente no ano passado e não pode exercer qualquer tipo de trabalho mais pesado. A educação vai além da alfabetização. Os órgãos públicos precisam zelar pela segurança e integridade, inclusive física, de seus alunos. Os pais confiam seu bem mais importante às mãos das instituições, que são obrigadas a proporcionar o mínimo de infraestrutura. No momento do acidente, Isabele e mais dezenas de crianças eram cuidadas por uma estagiária. Claro que os acadêmicos devem ter oportunidades de trabalho, mas devem ser assessorados por profissionais. E a falta de educadores do ensino municipal em Rio Grande é uma realidade. Não só a Escola Frederico Ernesto Buchholz precisa de mais professores, como outras da cidade.
Educação é um direito de toda a criança, e a creche onde ficava a menina garantia a renda familiar da família. O Executivo Municipal tem a obrigação de investir também no meio social.A cada dia, Rio Grande parece estar se aproximando de cidades as quais sofrem com políticas públicas despreparadas. Falta de professores e de infraestrutura para obras são os primeiros sintomas. É preciso fiscalizar e exigir atenção aos nossos filhos, filhos dessa terra que exige respeito. Não basta investimentos para o crescimento econômico portuário se o Município não está preparado para atender a demanda que vai ser gerada com a vinda de moradores de outras cidades - a qual irá exigir a ampliação de escolas, postos de saúde, investimentos em segurança pública, etc. O progresso só continuará apenas mediante um planejamento sério e capaz de atender o futuro, mas garantindo sempre a integridade da população. É preciso que Isabele seja apenas um caso isolado.